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Afectos

Porque a vida é feita de afectos ...

Afectos

29
Nov24

Metáforas

É à volta da lareira, com as brasas ardendo até ficarem incandescentes para dar calor às panelas, que me sento e levanto vezes sem fim, sempre de olhos postos na fervura, não vá o caldo entornar-se.
Todos os cozinheiros amadores, onde me incluo, receiam fracassar, mas nem isso evita, que por vezes cheire a esturro.
No espaço logo ao lado, onde a enorme mesa de tabua corrida recebe sempre mais um e onde nunca estou só, partilho os cozinhados, que uns dias saem melhor, outros nem por isso, mas com papas e bolos se enganam os tolos.
Oiço dizer, que barriga vazia não tem alegria, por isso, pelo menos antes sem candeia do que sem ceia, mas sendo irónica, garanto-vos que não custa jejuar depois de bem jantar.
Provavelmente é por tudo isto, que não há fome que não dê em fartura

--
Fátima Camilo 

#prosa
#ditosdafatima

28
Nov24

O Estaleiro de Viana


O Estaleiro de Viana



O Zé da Cercada, trabalhou no Estaleiro, toda a sua vida, provavelmente, creio eu, desde a sua fundação em 1944.

Começou ainda garoto, para escapar ao trabalho agrícola, e só acabou, quando a saúde e a velhice, já não o deixavam fazer o que mais gostava. Ir para o Estaleiro. Afinal, em todas as famílias da região de Viana do Castelo, havia um ou mais trabalhadores daquela respeitada empresa, e era com orgulho que se referiam ao seu “Estaleiro”. O Zé, falava dele com um brilhozinho nos olhos. Gostava do que fazia, era pintor. Passava dias, nos porões, a tratar a chapa, a dar-lhe cor, e mesmo quando estava dias sem ver a luz do sol, trazia consigo no regresso a casa, a alegria do convívio com os colegas, do trabalho feito nesse dia, nos imensos compartimentos da obra onde orgulhosamente trabalhava.

Todos os dias o Zé, homem simples, envergando o seu fato de trabalho, carregava a lancheira, com o magro almoço, preparado pela Rosalina. Lembro-me, apesar de ser ainda criança, de algumas vezes ter jantado em casa deles, aquele arroz de tomate…, o mesmo que o Zé levaria no dia seguinte na tal lancheira. Nunca nenhum arroz me soube tão bem…talvez por ser acompanhado por histórias do dia de trabalho, onde havia muita gente e aconteciam muitas coisas, contrariamente à aldeia, onde a pacatez reinava e onde as conversas eram pouco diversificadas.

Sempre que um navio ficava pronto, o relato da partida era feito pelo Zé com minúcia. E foram muitos que o Zé viu sair, da doca do Estaleiro, rumo às águas dos rios, mares e oceanos.

Um dia, foi o Zé que partiu, Consigo levou muitas histórias que não foram escritas, de vivências e acontecimentos sobre o seu Estaleiro. Eram quase todas as que eu conheci, histórias felizes.



Hoje, as histórias são outras

O Zé, já não leva a marmita. Já não há arroz de tomate.



FC

2013-11-28

26
Nov24

Dia de má lembrança 26 Novembro 1967

26 de Novembro, será sempre um dia de más lembranças...
....Ano de 1967. Novembro, 26
O Natal estava prestes a chegar.
Nas escolas, paróquias e associações, preparavam-se os festejos desta quadra tão animada....
...A chuva que caía de forma intensa e persistente teimava em não deixar ouvir com clareza as teclas do órgão e as vozes que se afinavam....
...Nos lares que ficavam nas zonas mais vulneráveis a cheias, a azáfama era grande.
...O dia seguinte “acordou” muito cedo...
Aqui e ali viam-se a boiar livros, roupas, pratos, sapatos, moveis, candeeiros, fogões, animais e pessoas. Tudo e todos os que não conseguiram vencer a fúria da água e da lama estavam ali, à vista de todos......
Faltava agora um telhado, bens de primeira necessidade, os livros da escola e ânimo para agarrar de novo a vida e as rotinas.....
... Está a chegar o dia da festa de Natal. O palco continua vazio. Não houve teatro, nem canções, nem compareceu a criançada que andava em euforia a preparar a festa. Não houve tempo para os ensaios e alguns que não resistiram às águas raivosas, já não moravam ali....
Fatima Camilo
Excerto de conto "Contratempos"

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20
Nov24

Constatações

 
Constatações
Estava a chorar, quando um lenço
me enxugou as lágrimas.
Estava a escrever, quando o vento
me roubou as palavras
Estava a rir, quando a tristeza
me abafou a alegria
Estava a pensar, quando um lapso
me apagou as ideias
Estava a sonhar, quando a realidade
me roubou a fantasia
Estava a ler na praia, quando uma onda
me arrastou para o mar…
Estava a namorar ao luar, quando a chuva
me veio visitar…
Mas o sol brilhou
a lágrima secou,
a palavra ficou,
a alegria continuou,
a ideia voltou,
a fantasia imperou,
o mar amainou,
a chuva parou,
e a vida… continuou!
Fátima Camilo
 
#ditosdafatima    
#poesia

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19
Nov24

Tempo

Falta-me tempo para ter tempo

mas eu não quero esse tempo

se um dia tiver tempo para o tempo

o tempo, deixa de ser o meu tempo!

 

#ditosdafatima

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