A campainha tocou. Um homem, na casa dos 50 anos, avançou timidamente até à recepção, com um pequeno dossier na mão. Educadamente perguntou se naquela empresa estavam a admitir pessoas.
Infelizmente, a resposta, é invariavelmente não, de há uns anos a esta parte.
E mais uma vez, timidamente, o homem, abriu a sua pasta, tirou o curriculum, entregou-mo, e pediu se lhe carimbava o papel do desemprego. Aquele estúpido papel que não prova nada, mas que obriga pessoas, que toda a vida trabalharam, a mendigar um carimbo, que ateste que procurou trabalho (sabendo-se que empregos não há), para ter direito a um subsídio de desemprego….Enfim…
O tal papel já tinha 2 carimbos, ia ficar com mais um, mas ainda faltavam outros dois…tarefa demasiado vexativa para qualquer desempregado, ainda mais estes, que trabalham desde jovens.
De olhos rasos de água, este homem, dizia, que nunca esperou com esta idade, ter de andar metido nestas coisas. Estava desempregado há um ano, trabalhou muitos anos numa empresa que despediu muita gente, e que agora, , com esta idade, já ninguém o queria.
Tinha no olhar uma tristeza enorme, transmitia amargura, desgosto, frustração e sei lá que mais…
Nestas situações, sentimo-nos igualmente tristes, impotentes para ajudar, revoltados com tudo…
O que me ocorreu de momento, para quebrar toda aquela angústia, foi oferecer-lhe um café.
Estranhei a rapidez com que aceitou o convite. Longe estava eu de pensar, que aquele homem, há muito que não bebia um café…
Saboreava-o quase que gota a gota… e ia dizendo:
- Está tão quentinho e a saber-me tão bem…. Há tanto tempo que não bebia um cafezinho!
E à medida que o bebia, deixava cair lágrimas e ia dizendo:
- O subsídio de 408 euros, que recebo, mal chega para a renda e as outras despesas. Come-se o que se pode e vive-se mal, mas…..
Acabou de beber o café, e saiu, sorrindo, agradecendo e levando ainda lágrimas teimosas que insistiam em cair.
Despedimo-nos num cumprimento rápido. As minhas lágrimas caíram também, revoltada, por viver num país, onde estas realidades não deviam acontecer.
FC
Escrito em 2013 , Novembro (fotografia e palavras de historia real)